31 janeiro 2014

Noite Sem Fim - PARTE 3

A delegacia encontrava-se completamente as escuras também, como ele imaginou. Kevin passou pelos portões de acesso do pátio e avançou devagar. Estava escuro demais, mas pareciam haver varias viaturas estacionadas  no pátio, oque significa que ele encontraria muitos policiais lá dentro. ''Torço para que sim.'' Um grito desesperado ecoou pelas ruas, vindo de um lugar qualquer em meio aquela escuridão sem fim. Kevin levou um susto e sentiu um frio na barriga: era aquela sensação de novo. Ele apressou-se e correu até a porta principal.

Kevin entrou na delegacia. O hall estava frio e silencioso, mas ao menos estava um pouco iluminado. Velas e sinalizadores foram espalhados pelos balcões e corredores - a maioria já apagada ou se extinguindo. Havia cheiro de sangue, mas ele não sabia de onde vinha. ''Acho que vem de todo lado...'' Havia uma escadaria central e velas iluminavam os degraus que levavam ao segundo andar do prédio. Kevin parou para observar um pouco, era a primeira vez que entrava em uma delegacia de polícia. O hall era largo e seguia em frente atrás da escadaria; parecia haver portas nas laterais e uma escada de emergência se destacava adiante, com adesivos fosforescentes. Kevin não sabia para onde ir, o hall era escuro e não oferecia segurança - e por falar em segurança, onde estão os policiais? O silêncio era tão grande que Kevin quase conseguia escutar as batidas do próprio coração.



Uma vela apagou-se e despencou de cima do balcão. Kevin avançou e seus pés chutaram um objeto metálico. Algo como uma moeda rolou pelo chão até parar ao lado da escadaria. Ele a seguiu com a lanterna e vários objetos brilhantes começaram a surgir refletindo a luz. - O que...? - Ele aproximou-se de um deles e o pegou: tratava-se de uma capsula vazia, e ao seu redor o chão todo estava repleto delas. Capsulas de diversos tamanhos e calibres. ''Meu Deus...'' subiu os degraus calmamente, apontando a luz para a sacada do segundo piso, tentando ver se havia alguém ou ''alguma coisa'' lá. Apoiou-se no corrimão e sua mão encontrou um líquido vermelho, um tanto pegajoso. ''Sangue...?'' Sentiu um arrepio, e ao chegar no ponto médio da escadaria, percebeu que haviam vários daqueles pequenos objetos luminosos ali também - era como se tivesse havido uma guerra dentro da delegacia. Kevin abaixou-se e pegou outra capsula vazia de algum armamento pesado. Olhou para trás, para baixo. Não havia notado quando entrou, mas dali de cima o hall parecia um campo de guerra, com papeis espalhados, capsulas e buracos de balas por tudo. Também era possível ver o sangue agora. ''Preciso dar o fora daqui imediatamente'' - pensou consigo, quando um ronco agudo surgiu as suas costas e o assustou, fazendo-o dar um passo em falso e rolar escada abaixo. Caido no chão, virou e viu aqueles três pontos vermelhos que se aproximavam. A lanterna havia escapado de sua mão durante a queda; ela não estava longe mas ele sabia que se tentasse levantar acabaria morto. ''Eu vou acabar morto de qualquer jeito!'' Pegou a faca que havia guardado na cintura e, com os pés e as mãos, começou a empurrar-se para trás, até que suas costas encontraram com o balcão onde estavam as velas. A criatura deu um ronco e começou a vir em sua direção. ''Droga, droga!'' Fechou os olhos, a morte era iminente... porém ela não aconteceu. A criatura estava parada e não se aproximava de Kevin. Furiosa, ela apenas andava de um lado ao outro, circundando a claridade... ''A luz, as velas, é claro!'' Kevin ergueu-se, os olhos cinzentos fixos na criatura que encontrava-se a um metro dele. Não era possível ver nada além de uma névoa escura flutuante, e de três pontos vermelhos. Mas fosse oque fosse, não estava voando, pois escutava-se o som de passos que arranhavam o chão quando ela se mexia. ''Que tipo de monstro é esse?'' Kevin contornou o balcão, segurando a faca com firmeza, mas sua pressa foi tamanha que ele acabou derrubando as velas que haviam em cima, conseguindo salvar apenas uma delas. ''Seu idiota!'' Ele a segurou com força, apontando-a na direção da criatura que agora não parecia incomodada - aquela luz não era suficiente para mante-la distante. A luz da lanterna brilhava próxima a escadaria e Kevin estava prestes a arriscar pega-la, quando escutou um estalo no piso e uma explosão de luz vermelha intensa que invadiu o hall da delegacia. Era um sinalizador! A criatura espremeu-se contra a parede, bem ao lado de Kevin que afastou-se dela rapidamente. Três homens fardados desceram as escadas alvejando a criatura com tiros de fuzil. Kevin abaixou-se, tapando os ouvidos com as mãos enquanto tentava observar a cena. A capa negra que a cobria começou a ser penetrada expondo um corpo humanoide curvado, magro e extremamente pálido, com algo em torno de 1,70m de altura. Seus braços longos, finos e ossudos tocavam o chão. Os dedos terminavam em garras negras compridas. Suas pernas eram igualmente magras e ossudas, terminando em pés com garras ligeiramente maiores que as das mãos. A cabeça era grande e oval; três pequenos olhos vermelhos ficavam acima do que parecia ser uma boca arredondada, com várias camadas de presas circulando seu interior, lembrando a boca de uma sanguessuga. ''Uma sanguessuga monstro...'' A pele pálida e quase transparente da criatura era toda porosa. Um dos policiais fez um gesto com a mão, e quando os tiros sessaram, a criatura estava caida sofrendo espasmos e sangrando um líquido negro; até que finalmente morreu e os olhos flamejantes apagaram. O policial que parecia estar no comando - um homem alto de meia idade - aproximou-se:

 - Você esta bem garoto?

Sem conseguir falar, Kevin apenas fez um sinal com a cabeça. Se os policiais não tivessem chegado, ele provavelmente teria morrido.

- Qual o seu nome? Você esta sozinho?
- S- Sim senhor, obrigado pela ajuda. Meu nome é Kevin.

O policial estendeu a mão para ajuda-lo a levantar. Os outros dois continuavam afastados, um deles abaixado perto da criatura recém morta, analisando-a, enquanto o outro vasculhava a área a procura de outra criatura.

- Vocês sabem o que é isso tudo? Sabem oque são essas coisas?
- Negativo. A única coisa que sabemos é que são extremamente sensíveis a luz, e que podemos mata-las.
- A pergunta é: até quando poderemos nos defender? - O policial que estava abaixado interrompeu. - A luz por si só não as mata. Vejam só quantos tiros são necessários pra derrubar só uma dessas aberrações. Nós não temos a munição necessária para lidar com essa situação.
- E nem homens suficientes. - completou o outro.
- C-Como assim? Onde estão os outros policiais? - perguntou Kevin.
- Só há nós garoto - respondeu o capitão -, e o Richard que ficou lá em cima fazendo guarda com o pequeno grupo de sobreviventes civis. Também tem o Paul e o Mike, mas não sabemos a posição deles. A essa altura, é possível que já tenham sido...
- Não, eles vão voltar! - interrompeu o policial abaixado. - Eu recebi uma frequência do rádio do Paul a menos de meia hora. Ouvi tiros e... Droga eu sei que...
- Controle-se, Carlos! - interrompeu o capitão, apertando o braço do policial - Eu sei que ele é seu irmão, e também era meu amigo; mas você é um profissional, pelo amor de Deus, lembre-se disso! É uma ordem!
- Você estão estão brincando né? - perguntou Kevin.
- Escute garoto... Menezes irá leva-lo lá para cima.
- Espera! Senhor... - interrompeu Kevin.
- Capitão Joseph. - completou o homem.
- ... Capitão Joseph, sobre esses civis, por acaso entre eles há uma mulher de quarenta e poucos anos chamada Lisa!? Ela é minha mãe e eu não consegui entrar em contato com ela desde que isso tudo começou!

O capitão olhou para os outros dois.

- Carlos, Menezes, vocês sabem de alguma coisa?

Ambos fizeram sinal negativo.

- Espera, eu ouvi esse nome ser dito lá em cima. Talvez Richard possa ajudar. - disse Carlos.
- Pode ser a minha mãe! Por favor, me levem até lá!
- Tudo bem... Menezes, você acompanha o garoto até lá em cima.
- Mas capitão...
- Faça isso. Eu e o Carlos vamos na frente e você nos encontra em seguida. Vão logo, quanto mais tempo perdemos, menores as chances.
- Certo. - concordou um pouco exitante. - Eu alcanço vocês. Vem comigo, garoto!

Kevin e Menezess subiram as escadas, enquanto Joseph e Carlos seguiram pelo hall e entraram em uma porta dupla ao lado da escada de emergência. A criatura abatida continuava caída, dentro de uma poça de liquido negro brilhoso, contrastado pela luz vermelha continua produzida pelo sinalizador.

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