''Este conto é mais um daqueles baseados em algum pesadelo que eu tive. Ele chega até a parecer clichê até certo ponto, mas, eu não escreveria sobre ele se algo interessante não tivesse acontecido. Esse sonho, ou pesadelo(não consegui me decidir totalmente) ficou na minha cabeça por vários dias, e eu até conversei sobre ele com uma amiga minha. Foi ela, aliás, que me incentivou a escrever. Espero que gostem.''
Naquele domingo fomos até a praça, bebemos um pouco e em seguida
fomos ao cinema. O filme estava bom - bem melhor do que eu esperava. O
ingresso até que valeu a pena.
Já estava tarde quando
saímos do cinema e também estava ficando muito frio. Não sabíamos mais
oque fazer, até que um de nós teve a ideia de irmos em um bar próximo e
jogar um pouco de sinuca pra encerrar a noite. No bar - por incrível que
pareça -, conseguimos a companhia de quatro garotas, uma para cada.
Tudo estava começando a valer á pena de verdade.
Algumas
horas se passaram e, depois de muitas tacadas, cervejas, e conversa
jogada fora, saímos do bar com as moças. Ficamos dando voltas de carro
pelo centro durante um tempo, falando e rindo de qualquer bobagem que
nossas mentes anestesiadas criavam. Pude perceber que o clima no banco
de trás tinha dado uma esquentada, e nós insistimos para que elas
passassem a madrugada conosco - se é que me entende, claro -, mas
infelizmente não rolou; então pegamos seus telefones e as deixamos na
casa de uma delas - acho que era a tal da Jenifer. Iriam posar juntas, foi oque disseram.
Não conseguimos oque queriamos, mas mesmo assim aquela noite estava perfeita, não tínhamos do que reclamar. Estava tão perfeita que não dava pra imaginar oque aconteceria depois.
Já
se aproximava das cinco da manhã e estávamos cansados e embriagados. O
menos bêbado era eu, pois estava dirigindo. De qualquer maneira, eu estava muito cansado, e tudo
que eu queria era chegar em casa e ir dormir. Deixei dois dos meus
amigos em casa e depois levei o outro. Ele morava na mesma rua que eu.
Quando chegamos, me despedi dele - que saiu rindo e tropeçando - e
fiquei um tempo com o carro parado, apenas para ter certeza que ele
entraria em segurança. Mas isso não aconteceu. Antes que ele chegasse
perto do portão, dois homens surgiram do escuro, o abordaram e o
trouxeram de volta ao carro, anunciando o sequestro. Aconteceu rápido
demais. Com uma arma apontada para mim, me tiraram do voltante e nos
puseram juntos no porta malas. A porta desceu e logo o carro deu
partida.
Tudo que eu pensava era em manter a calma, mas
esse pensamento acabou me deixando ainda mais nervoso. Meu celular
estava lá na frente e o celular do Léo não tinha carga. Não havia como pedir socorro. Tentamos forçar a porta com os pés, mas
não abria de jeito nenhum. Estava muito apertado e não tinha nada que
pudesse ser feito, a não ser esperar alguma oportunidade e fugir. Mas
porque estavam nos sequestrando?! Não eramos ricos! Pensei então que
pudesse ter sido um engano e que nos liberariam assim que descobrissem - mas isso, claro, na melhor e mais ingênua das hipóteses. Meu amigo
pessimista - ou realista - falava que iriamos morrer, e essa sem duvidas
era a pior das hipóteses. Infelizmente em situações dessas a pior delas
é a que prevalece.
Mais ou menos meia hora depois, o
carro entrou em um tipo de rua cheia de buracos. Foram vários minutos de
chão ruim, até que paramos. Ouvi o barulho das portas se abrindo e de
passos se afastando. Os filhos da puta nos deixaram ali, sufocando.
Chutamos e forçamos a porta, mas não tinha mesmo como abri-la. Vários
minutos se passaram, até que ouvi passos que aproximavam-se, e então a
porta abriu. Um único homem nos puxou para fora. Tentei falar mas fui
agredido e mandado ficar em silêncio. Eu ia reagir, nós dois podíamos
acabar com aquele cara e sair correndo - pensei -, mas não deu, pois
outros se aproximaram apontando armas para nós e nos arrastaram até um
galpão no meio do mato. Mato, aliás, era oque não faltava nas
redondezas. Onde é que estávamos?!
Tentamos falar, mas
era inútil. Fomos atirados dentro do galpão e a porta atras da gente foi
fechada e trancada. Levantei e esmurrei a porta chamando por eles, mas
tudo que ouvi em troca foi um ''Cale a boca ou meto uma bala na tua
cabeça!'' Meu amigo me puxou pelo braço, dizendo pra mim olhar alguma
coisa. Eu me virei e fiquei surpreso ao me deparar com mais três pessoas
ali dentro. Duas gurias e um rapaz, que aparentavam nossa idade, talvez
mais velhos. O rapaz estava todo machucado no rosto e com os joelhos e
cotovelos esfolados. Depois de algumas perguntas, descobrimos que os
três ja estavam ali a três dias e que costumavam ser cinco, mas dois
deles - outros dois rapazes, sendo que um era irmão do rapaz machucado -
foram levados na manhã do dia anterior e nunca mais voltaram. O que será que aconteceu com
eles? Seja lá oque tenha sido, não iria acontecer comigo! Eu ia fugir
dali!
Olhei meu relógio, o Sol já estava pra nascer.
As gurias me chamaram e me mostraram algo que estavam planejando.
Puxaram um tonel, e uma fresta de luz entrou pelo chão, por baixo das
ripas de madeira. Chamei meu amigo pra ver e ele me olhou com aquele
olhar esperançoso. Pedi para que se abaixassem e tivemos uma breve
conversa. O plano aqui era simples: iriamos todos cavar o chão de terra
até que fosse possível passar nossos corpos por baixo. Então correríamos
em silêncio pro meio daquele matagal.
Uma
das gurias ficou perto da porta, tentando escutar oque se passava lá
fora; alguma coisa para nos alertar, caso precisasse. O restante de nós
cavou o melhor que pode. Estava dando certo! O ultimo a passar pela
fresta foi o rapaz machucado. Puxamos ele pra fora com um pouco de
dificuldade e em seguida corremos para o matagal. Mas a alegria durou
pouco, pois um dos sequestradores percebeu a fuga e gritou para os
outros, depois sacou a pistola e começou a disparar. Começamos a ser
perseguidos e no meio do desespero acabamos nos perdendo um do outro.
Senti uma dor na lombar, como se tivessem atravessado uma lâmina em mim.
Pressionei com a mão e senti um líquido quente. Céus, era sangue!
Continuei correndo. O primeiro de nós que chegasse na estrada, com
certeza tentaria pedir socorro. A dor do tiro estava me matando. Havia
muito sangue em minhas mãos e eu tremia sem parar. Comecei então a
correr mais lentamente, até quase não conseguir mais.
Doía muito, e aquela dor parecia sugar minha energia. Nem mesmo sei de onde tirei forças para escalar um barranco que
apareceu na minha frente, mas de alguma forma eu o fiz. Assim que
cheguei ao topo, cheguei também ao meu limite. Eu sabia que agora era só uma
questão de tempo até eles me encontrarem, vivo ou morto. Com a mão esquerda pressionando o ferimento, me escorei em
uma árvore próxima e fechei os olhos. Era aconchegante. Comecei a pensar
em meus pais, no meu irmão e na minha irmã. Meus amigos também vieram a
minha cabeça; todos que eu conhecia. Ficava imaginando oque pensariam,
oque diriam, quando soubessem que eu havia morrido... Comecei a sentir
sede, muita sede e meu corpo parecia flutuar. Lágrimas começaram a
escorrer pelos meus olhos. Eu não queria morrer!... Foi então que notei
passos. Haviam me achado, era o fim. Mas então ouvi um som diferente...
um relinchar? Oque foi isso? Abri meus olhos para ter certeza. Sim, era
um cavalo. Um cavalo marrom, e ele estava parado na minha frente, seu
rosto muito próximo a mim, tão proximo que eu podia sentir sua quente
respiração no meu pescoço. Passei a mão em seu rosto, e então o animal
se afastou, posicionou-se de lado, e foi se abaixando, como se quisesse
que eu montasse. Impossível. Meu corpo, porém, foi respondendo sozinho.
Um segundo depois e eu estava montando no animal. Deitei-me e fiquei
estirado, com os olhos quase fechando. Seu corpo era aconchegante; seu
pelo era quente. Adormeci. De repente fui despertado por uma sirene e
dei de cara com uma lanterna nos meus olhos. -''Ele está vivo, tragam
uma maca, rápido!'' Uma voz dirigiu-se a mim dizendo que tudo ficaria
bem. Não tinha certeza, mas acho que eu estava agora dentro de uma
ambulância. A luz acima era muito branca e parecia se mexer. Vultos
negros passavam ao redor. Alguma coisa segurou meu pulso e senti-me
apagando aos poucos; mas de relance, ergui a cabeça e vi nitidamente
que, lá fora, alguma coisa me observava de longe. Era ele, era o cavalo. O animal deu as costas e foi se afastando lentamente.
Acompanhei ele máximo que pude, então tudo ficou escuro de novo.