03 julho 2014

Presente de Natal.

Era Natal e Coraline já não acreditava mais em Papai Noel. Esperta, sempre percebia que eram seus pais que guardavam os presentes com todo cuidado em volta do pé da árvore. Atualmente, com 10 anos de idade, ainda recebe presentes dos mesmos, mas sem histórias fantásticas de papai noel, claro. Neste natal, sua família recebeu algumas visitas, e todos deram um presente para a menina. Muito educada e simpática, Coraline agradeceu a todos um por um, sempre esbanjando um enorme sorriso. Em seguida sentou-se no tapete próximo a lareira e começou a abrir os pacotes. Roupas, pijamas, meias, blusões, um colar bronzeado(o presente que ela mais gostou) e uma touca de crochê um tanto estranha que ganhou de sua tia Maria. Estavam todos sorrindo, conversando, contando histórias. Sua mãe surgiu na sala oferecendo fatias de bolo e chá para as visitas, e em seguida seu pai contou uma piada que Coraline não entendeu, mas todos riram.




O Sol já estava se pondo quando os últimos visitantes começaram a ir embora. Os postes das ruas haviam acendido e as luzinhas coloridas da vizinhança piscavam em diversos ritmos. Ao se despedir do ultimo convidado, Coraline agradeceu novamente pelo presente e em seguida foi arrumar a bagunça que havia feito, com pacotes e embalagens abertas espalhadas pelo chão e sofá. Seu pai subiu para tomar um banho e sua mãe foi organizar a cozinha para em seguida preparar o jantar. Enquanto juntava os embrulhos e as embalagens, Coraline percebeu que havia esquecido de abrir um dos presentes, um pacote bem grande, laminado e com uma fita negra. Curiosa, pegou-o, sentou-se no sofá e abriu imediatamente. O pacote revelou uma enorme boneca de pano, que a princípio era comum, mas ostentava um sorriso quase sarcástico bordado em seu rosto. Sua mãe apareceu na sala e viu Coraline sentada com a boneca no colo.

- Aposto que foi sua tia Maria, só ela pra te dar um presente desses. - disse a mãe de Coraline, rindo.
- Não foi a tia Maria, mamãe, a tia me deu uma touca.

A mãe aproximou-se.

- Então quem foi? Tem algum cartão ou coisa do tipo?
- Não tem. Na verdade eu nem me lembro de ter pego esse pacote. - respondeu Coraline, voltando seu olhar para a boneca.

Sua mãe sentou-se e segurou a boneca no colo.

- Até que ela é bonitinha. - disse. Coraline pareceu neutra. - É uma boneca artesanal, eu brincava com bonecas parecidas com essa quando eu tinha sua idade... e parece que ela tem nome, veja.

O nome ''Anna'' estava bordado atrás da boneca, na altura do pescoço.

- Anna? Já que me deram uma boneca, poderiam ter pelo menos deixado eu escolher o nome dela.

Sua mãe riu.

- Muito bem mocinha, outra hora a gente descobre quem te deu a boneca. Agora termine de arrumar essa bagunça, esta bem? Depois guarde a ''Anna'' no seu quarto e venha me ajudar a preparar o jantar. Seu pai já deve estar saindo do banho.




Ao fim da noite, Coraline se prepara para dormir; vai até o banheiro escovar os dentes e depois retorna ao quarto. Anna está sentada em cima da mesinha ao lado de sua cama, escorada na parede. Já é quase 1 da manhã, o dia foi cansativo e Coraline pega no sono rápido. No meio da madrugada, acorda, tenta voltar a dormir mas não consegue, então decide levantar. Acende a luz, pega seus materiais de desenho e resolve ficar desenhando até o sono vir novamente. O tempo passa e seus olhos vão pesando cada vez mais, forçando-a a voltar para cama. Na manhã seguinte, Coraline percebe que a boneca sumiu e começa a procurá-la, acabando por encontrá-la em baixo de sua cama. Não sabendo como foi parar ali, pensa que deve ter pego-a a noite e ela acabou caindo no chão.

No mesmo dia, Coraline volta a desenhar e ao ficar tarde, decide ir dormir. Ao amanhecer, sua primeira reação é virar o rosto e olhar para estante onde havia posto a boneca. Ela ainda está lá. Caroline sorri, sentindo-se uma boba por ter olhado para ''ver se a boneca havia se mexido'', então levanta. Ao levantar, encontra seus materiais de desenho esparramados pelo chão. Ela se abaixa para juntá-los, mas espanta-se ao perceber que há alguns desenhos que não desenhou misturados aos dela. Eram desenhos grotescos, com muito vermelho, parecendo sangue, e uma menina segurando uma faca negra ao lado de uma árvore natalina. A menina fica apavorada, amassa-os e os joga na lixeira que fica ao lado de sua cama. Ela olha para Anna e percebe que algo está diferente, então aproxima-se e a pega para ver melhor. A boneca esta suja de lápis no rosto e nas mãos. Assustada e sem saber o que pensar, decide não contar a ninguém sobre a estranha experiência com a boneca. Momentos mais tarde, mais tranquila, enrola a boneca em um saco plástico, sai pela porta de entrada e a joga no lixo que fica fora da casa.

A noite chega e todos se preparam para ir dormir. Coraline acende a luz de seu quarto, mas percebe que esqueceu de escovar os dentes, então dá meia volta e vai ao banheiro. No caminho, encontra sua mãe no corredor; ela lhe da um beijo de boa noite e depois entra em seu quarto. Enquanto Coraline escova os dentes, um clarão atinge a pequena janela do banheiro, seguido de um enorme estrondo e sons de pingos batendo no telhado da casa. A menina volta ao quarto e vê sua porta fechada. Gira a maçaneta, mas tem dificuldades para abri-la. Tenta novamente, empurrando com mais força e então consegue. A porta abre vagarosamente.  Coraline observa a escuridão e fica confusa, pois havia deixado a luz acesa. Ela aperta o interruptor, a lâmpada acende, mas muito fraca e estoura. A menina leva um susto e dirige-se rapidamente até sua cama, se cobrindo com as cobertas. Lá fora a chuva começa a engrossar cada vez mais e os pingos batem com força contra o vidro da persiana. Coraline observa a chuva cair, algo não está certo. Ela então vira-se e dá de cara com a boneca em sua estante, no mesmo lugar que ocupava antes de ser jogada no lixo. Outro clarão vindo da janela ilumina o quarto como se fosse dia, e a garota consegue ver claramente o rosto dela, agora com uma expressão totalmente diferente, como se estivesse zangada. Apavorada, Coraline levanta da cama e tenta correr, mas acaba torcendo o pé e caindo. Ela se vira na direção da estante; Anna está imóvel. Novamente seu quarto é iluminado por um relâmpago. Diferentes sombras são projetadas e ela percebe uma sombra distorcida, que sai da boneca e se alonga até o teto; um corpo fino com longos braços, e dedos compridos como pernas de aranha. Coraline tenta gritar, tenta se mexer, mas não consegue. A escuridão toma conta mais uma vez, enquanto lá fora a tempestade parece diminuir aos poucos. Ao amanhecer, os pais continuam dormindo tranquilamente. Um rangido no assoalho ecoa pela casa, causado por leves passos. A mãe abre os olhos aos poucos, vendo a luz do dia invadindo a casa e entrando pela porta de seu quarto. Permanece observando este mesmo ponto por alguns instantes, até a pequena silhueta de uma menina aparecer contra a luz, arrastando uma boneca em uma das mãos e segurando um enorme punhal negro na outra.

- Bom dia... mamãe.





*Agradecimento especial
 ao meu amigo Kelvin Sejanes,
 que me ajudou a escrever o conto.

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